96010033518 (Por onde anda a luz)Data: 24/6/2008 O processo por mim adotado é simples: vou até um traseunte. Peço-lhe a sombra, que me deixe desenhá-la no chão, apenas a silhueta de sua figura. Peço-lhe que, caso concorde, fique imóvel por alguns instantes e deixe que eu marque essa imagem com giz branco, aquele para quadro negro. Essa silhueta é preenchida com números que seguem numa linha em espiral partindo da borda ao centro, do que corresponde aos pés na figura e seguindo para cima. Não é necessário especificar a origem dos números, basta que tenham correspondência com a vida: a própria idade, a data de algum evento marcante, placas, senhas, códigos. Cada detalhe dobra e curva é preenchida por eles, números do corpo: medidas, peso, altura, idade; números da lembrança: datas significativas, momentos com hora e dia nunca esquecidos; números de ligação com a cidade: registro geral, cadastro de pessoa física, título de eleitor, carteira de habilitação. Todos parecem os mesmos quando colocados enfileirados ao longo da forma, seguindo o traçado, numa linha única em direção ao centro até alcançarem a si mesmos, indo e vindo como vão e vêm todos que caminham pela cidade. Apago as marcas do primeiro giz. Só o preto da cera permanece. O processo se repete, o momento de parar depende do número de pessoas dispostas a deixar sua marca. É importante que sejam voluntários como moradores ou frequentadores cotidianos, basta que estejam no momento da ação, que cumpram seu papel na narrativa que se constrói a medida que aquele recorte temporal acontece. Recorto as sombras dividindo-as do corpo, desabilitando seu caráter de contiguidade, procurando reavaliar a visão dos corpos sobre a pedra. Números desenhados com giz no chão da praça José de Alencar “transcrevendo” a sombra de pessoas na praça. Poderia ser qualquer espaço urbano (é interessante que seja). A escolha da praça José de Alencar se deve a uma particularidade desse espaço: em frente ao mais importante teatro da capital, desde muito tempo, os chamados artistas de rua dividiam espaço com religiosos, engraxates, camelôs, ambulantes e mais alguns trabalhadores informais, dividiam espaço, inclusive, com os vários artistas: músicos, atores, dentre outros, que se apresentam no teatro homônimo a praça. Todos, em frente ao prédio histórico, tentam chamar a atenção de uma plateia um tanto desinteressada e apressada demais, um tanto disposta a doar minutos para toda sorte de apresentações, discursos e produtos populares anunciados a todos. O espaço da praça é o palco. Concepção: Edmilson Jr (Juin) Produção: André Lopes (Jedi), Edmilson Jr (Juin), Rodolfo Batista Viana e Marcos Mauro Barreto Registro |